Pouco depois, o jornal britânico “John Bull” qualificava-o como “bestialidade”, “depravação indescritível” e “lixo”.
A escandalizada recepção da obra na altura em que surgiu — em 1932 foi publicada em Inglaterra uma versão censurada, e foi apenas em 1960 que o texto completo conseguiu circular livremente pelo país — não impediu, porém, que O Amante de Lady Chatterley se tornasse no romance mais célebre de D.H. Lawrence.
Foi, também, o último que escreveu, dois anos antes de ser internado num sanatório em França, onde veio a morrer de tuberculose.
O tema do livro (uma mulher que se apaixona por um homem de classe inferior, apesar dos constrangimentos sociais) não era novo na produção narrativa de Lawrence, estando já presente em títulos anteriores como “Pavão Branco”, com o qual se estreou como romancista, ou “The Lost Girl”.
Mas em O Amante... , além das célebres descrições sexuais entre Lady Chatterley e o guarda florestal Mellors, surge denúncia de uma sociedade industrializada, mecânica, fria e repressiva, que se opõe a toda e qualquer forma de espontaneidade.
Constance, a princípio conformada com essa rigidez monótona da classe senhorial britânica e do seu marido paraplégico Clifford, descobre o corpo masculino do amante e o seu próprio corpo, numa espécie de ritual de iniciação aos prazeres da carne e dos afectos.
Os sucessivos êxtases orgásmicos de ambos — como um turbilhão selvático que rasga as trevas da noite — cedo se transformam num amor profundo, capaz de transpor convenções sociais cristalizadas.
Perante a evolução de sentimentos, o livro adquire uma textura mais íntima, carinhosa até.
Para os que desprezaram O Amante... ou para os que o consideraram obsceno, Lawrence dirige-lhes as seguintes palavras no prefácio da segunda edição da obra, em Paris, 1929:
“Conservem as vossas perversões, se isso vos consegue dar prazer, as vossas perversões de puritanismo, ou de moderno impudor, ou de simples grosseria.
Quanto a mim, defendo o meu livro e a minha posição: a vida só é aceitável se o espírito e o corpo viverem em harmonia, se houver um natural equilíbrio entre ambos e sentirem um pelo outro um respeito espontâneo.”
Muitas foram as versões para Cinema e Televisão, feitas a partir desta obra notável, mas a maioria ( como aconteceu em 1981, numa tentativa não conseguida, com a soft porno Sylvia Kristel) não conseguiu transmitir o clima de pulsão erótica sempre presente no livro.
Para nós, terá sido Pascale Ferran, tendo como protagonistas Marina Hands e Jean-Louis Coulloc'h, quem mais se aproximou do texto original.
"...C'est le Désir qui fait tourner le Monde !"
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