sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada ...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio ...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente

que da nossa ternura anda sorrindo ...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira

1 comentário:

  1. David Mourão-Ferreira, o mestre da poesia erótica portuguesa.

    É nesse ponto
    de tuas coxas
    que o meu pescoço
    implora a forca

    Mas dás-lhe o trono
    da luz da sombra
    num sorvedouro
    de rosas roxas

    Agreste gosto
    de húmida polpa
    o que dissolvo
    dentro da boca

    Eis num renovo
    mágica força
    Rei me coroo
    em tuas coxas

    In "Porpo Iluminado"
    (Textos poéticos escritos para desenhos de Francisco Simões)

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